O novo romance do escritor e jornalista João Lucas Dusi
Após ganhar um importante prêmio literário de Portugal, Pingo decide que é hora de abandonar as ilusões da sobriedade e abraçar, uma vez mais, o caos — onde se sente em casa, com o nariz cheio de pó e curiosas ideias de diversão. Um certo humor doentio, combinado com enxurradas de referências à cultura pop e à literatura, são as marcas mais fortes deste romance de estreia — com orelha assinada por Bruno Ribeiro, autor de «Porco de raça».
A prostituta transexual Melissa, fã de Guimarães Rosa e Shakespeare, e as lembranças de Maria, ex-namorada do protagonista, povoam as páginas da narrativa. A prosa frenética, calcada na intertextualidade e com fortes marcas de oralidade, espelha o interior de um personagem insuportavelmente cheio de si. De alguém que, traumatizado, busca redenção nos piores lugares possíveis — com destaque para as ricas descrições de cenários curitibanos e algumas muitas incursões por rincões oníricos.
É difícil separar a realidade de uma espécie de derretimento mental de Pingo, um sujeito estranhamente cativante: tão arrogante quanto frágil; misantropo desesperado por atenção; odiador nato que sofre por um amor perdido. O tom da escrita, entre reflexões filosóficas, saudades honestas e arroubos histéricos, parece espelhar a complexidade de um verdadeiro anti-herói, aquele que se arrasta pela vida remoendo o que parecem ser, em sua cabeça encharcada de autopiedade, problemas incontornáveis.
«Costurado com um cordão umbilical, a prosa de Dusi chega — como um trem desgovernado prestes a bater em um castelo de cartas marcadas — para mostrar que não é possível fazer literatura sem coragem e risco: dois fantasmas que o autor assume como seus e os incorpora na sua mesa trincada como um médium dando braçadas nas erupções do Kilauea — o vulcão mais ativo do mundo.»
Bruno Ribeiro, autor do romance «Porco de raça»