A vida de Joana d’Arc é única. Uma mera criança, ignorante, iletrada, uma pobre aldeã desconhecida e sem influência, encontrou uma grande nação acorrentada, indefesa e sem esperança sob domínio alheio, o Tesouro falido, os soldados desalentados e dispersos, o espírito entorpecido, a coragem morta no coração do povo graças a longos anos de ultraje e de opressão estrangeira e interna, o seu rei intimidado, resignado ao destino e preparando-se para abandonar o país; e ela pousou a mão sobre esta nação, este cadáver, que se ergueu e a seguiu.
Levou-a de vitória em vitória, inverteu a maré da Guerra dos Cem Anos, estropiou fatalmente o poder inglês e recebeu o merecido título de «Libertadora de França». Quando resgatou o seu rei de uma vida dissoluta e lhe colocou a coroa na cabeça, recebeu recompensas e honras, mas recusou todas elas. Tudo o que estava disposta a aceitar — se o rei lho permitisse — era que a deixassem partir e regressar a casa na sua aldeia, cuidar novamente das ovelhas, sentir os braços da mãe à volta e viver para a servir e ajudar. O contraste entre Joana e o seu século — o mais brutal, o mais perverso, o mais podre da história — corresponde à diferença entre o dia e a noite.
Ela foi sincera quando mentir era o falar comum dos homens; foi honesta quando a honestidade se tornara uma virtude perdida; cumpriu as promessas quando não estas eram esperadas de ninguém; foi firme quando se desconhecia a estabilidade, e honrada num tempo que esquecera a honra; foi um rochedo de convicções numa época em que os homens não acreditavam em nada e zombavam de tudo; foi de uma coragem destemida quando a esperança e a coragem haviam perecido nos corações da sua nação.
Como recompensa, o rei de França, que ela coroara, deixou-se ficar indiferente, enquanto os padres franceses levavam a nobre criança, a mais inocente, a mais adorável de todas as eras, e a queimavam viva na fogueira.