Parte destes ingredientes se encontra também no Amor de Perdição, mas é utilizada com uma economia e uma eficácia que suprem outras carências evidentes. O desenho das situações é rápido, a intensidade da expressão e da vivência das paixões e dos sentimentos é total, a caracterização das figuras faz-se em duas penadas, o registo da escrita, descontados alguns excessos da expressão amorosa, é certeiro. Mas há outros problemas de que adiante falarei.
O Camilo que escreve a história tem 35 anos e é, repito, homem já maduro e autor consagrado (tão consagrado que recebe na prisão a visita do rei D. Pedro V). A mulher que está na origem dos seus problemas, Ana Plácido, tem 31, não se sabendo se já era a virago em que veio a tornar-se. Por muito tumultuoso que fosse o caso entre ambos, nem o autor chegara ainda (se é que alguma vez chegou, mesmo com a Corja e o Eusébio Macário ... ) às coordenadas estéticas do realismo literário, nem a camada burguesa em que ambos se integravam estaria em condições de ler uma história passada nesse mesmo meio social e com personagens correspondentes, ainda que sob razoável disfarce, aos dois amantes